Perdidos em Vanuatu
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In Oceania

Perdidos em Vanuatu

Vanuatu, onde fica mesmo? Talvez esta seja a primeira pergunta que passou pela sua cabeça. Vanuatu é um país da região chamada Melanésia, no oceano Pacífico.  Ocupa um arquipélago de 83 ilhas conhecidas como Novas Hébridas. Tem fronteiras marítimas com as Ilhas Salomão, Nova Caledónia e Ilhas Fiji. Fica à 2.500Km ao noroeste de Sydney, na Austrália.

Apesar de ser um destino popular entre os australianos e neozelandeses, no Brasil escuta-se muito pouco sobre Vanuatu. São duas ilhas maiores que abrigam as principais cidades do país, Efate, onde fica sua capital, Port Vila, e Espírito Santo, a primeira ilha do país descoberta em 1606 por um explorador português, que somente a avistou de longe e pensou tratar-se de um continente do sul. Foi em 1774 que um explorador francês voltou a região e “redescobriu” as ilhas, chamando-as de Novas Hébridas, nome que permaneceu até a independência do arquipélago.

Estas duas cidades movimentam a estrutura de turismo no país, porém, para visitar ambas é preciso pegar um voo interno, que não é baratinho, pois a distância entre elas é bastante considerável. De barco, levaria de 2 a 3 dias para chegar de uma a outra ilha.

Outro destino bastante interessante é a ilha de Tanna, ao sul de Efate, que tem um vulcão ativo até hoje. Mas, também, para chegar lá, somente de avião ou de barco, navegando em águas turbulentas por mais de 16 horas.

Já deu para perceber que não é tão simples conhecer este país, não é?  Na verdade, o problema é o preço, porque os voos internos são bastante caros. O turismo no país ainda está se desenvolvendo, mas tem um bom potencial para poder tornar os passeios mais acessíveis algum dia.

Ficamos somente em Efate, e fomos explorar a região para conhecer um pouco mais do povo e da cultura de Vanuatu. O país tem um passado obscuro, pois já foi território de canibais e até hoje dizem haver praticantes de magia negra. Não é o lugar mais apropriado para se estar no Halloween, mas, não teve jeito, quando a gente se deu conta, já era 31 de outubro. Tirando os passos fantasmas que ouvimos durante a madrugada dentro de nosso quarto por 3 noites consecutivas, deu tudo certo.

Os primeiros missionários, que vieram para o país no século XIX, não tiveram tanta sorte. John Williams and James Harris visitaram a ilha de Erromango em 1839, e acabaram virando o jantar dos canibais. Foram os primeiros missionários vítimas de canibalismo. Mas, depois disso, com a colonização dividida entre a Inglaterra e a França, o trabalho dos missionários ganhou força e os últimos sinais de canibalismo foram encontrados há mais de 40 anos atrás. O trabalho dos missionários foi essencial para o crescimento do país, pois trouxeram educação, remédios e auxiliaram no fomento ao comércio local. Hoje, a economia do país é baseada na agricultura.

A maioria da população é cristã ou católica. É um povo simples, mas sorridente e muito simpático. A estrutura de turismo no país está se desenvolvendo. Há vários australianos e neozelandeses que foram para Vanuatu abrir hotéis, resorts e restaurantes. Toda vez que viajamos para lugares assim, damos preferência para ficar em lugares cujos os donos são locais, mas aqui, vi a importância da vinda dos estrangeiros.

A população, apesar de simpática, ainda está aprendendo a lidar com o turismo e, trabalhando nos estabelecimentos de estrangeiros, eles aprendem e se tornam mais qualificados. Os moradores da região que abrem seu próprio negócio se espelham nos estabelecimentos dos estrangeiros, mesmo que seu hotel ou restaurante seja menor e muito mais simples.  

Conhecemos um jovem australiano que está morando em Vanuatu há 1 ano, para implementar um projeto que visa fomentar a economia de pequenos vilarejos. Por meio de aulas e aluguel de equipamento para fazer Stand Up Paddle, ele capacita os jovens da comunidade para serem instrutores, fornecendo o material para que depois possam gerenciar a empresa por conta própria, uma espécie de incubadora social. Toda essa experiência faz parte de seu projeto para a faculdade.

Mais de 80% da população vive em pequenas aldeias comunais e depende da agricultura de subsistência e de pequena escala. Nós alugamos um quadricículo para conhecer a ilha de Efate e passamos por vários vilarejos pelo caminho. Conversando com algumas pessoas, eles gostam muito da vida em comunidade, estão acostumados com os amigos ao redor, a liberdade da vila e o dia a dia mais tranquilo.  

Alguns já até foram para Austrália, mas ainda preferem Vanuatu. Outra coisa legal é que estes vilarejos tomam conta do meio ambiente ao seu redor. Há responsáveis pela praia e pelos corais que ficam na redondeza. Em uma pequena vila ao norte da ilha, algumas famílias começaram a tomar conta das tartarugas marinhas da região, principalmente as pequenas, que necessitam de mais cuidado. O problema é que algumas tartarugas viraram atração turística, pois viram que poderiam ganhar um dinheirinho com isso.

Aliás, a maioria das praias viraram propriedades particulares, sendo necessário pagar para visitá-las. Os preços variam de dois a sete dólares por pessoa.

Dentre os lugares que conhecemos, três são imperdíveis: A “Eton Natural Pool”, conhecida como Blue Lagoon, que é uma lagoa linda de água transparente, super gostosa para nadar;  A pequena ilha de Erakor, que abriga um resort, perfeito para relaxar e, principalmente, fazer snorkeling, para observar de perto as criaturas desse mar fantástico; E a incrível ilha de Hideaway, cujas as principais atrações estão no fundo do mar que, além de ter uma vida marinha lindíssima, tem o único correio debaixo d’água do mundo.

Claro que um passeio pelos vilarejos, conversar com o povo local, andar pelo mercado 24 horas de Port Vila, caminhar na cidade, também não pode faltar na lista de atividades para quem vem conhecer um lugar como Vanuatu.

Um fato curioso, que nos chamou a atenção, foi a língua do país. Com 113 dialetos distintos, Vanuatu tem três línguas oficiais: inglês, francês e bislamá. Esta última é a mais interessante, porque mistura inglês e francês, com uma fonética que se assemelha à de um brasileiro que está aprendendo a falar inglês. Vou explicar melhor: por exemplo, para dizer “muito obrigado” eles falam “tankiu tumas” como se fosse aquele inglês de índio dizendo “thank you too much”. Com licença, que em inglês é “Excuse me”, em bislamá é “Eckiscusme”.

Em março de 2015, o país foi brutalmente atingido pelo Ciclone Pam, que destruiu casas, plantações e causou a morte de dezenas de pessoas. Vanuatu ainda está se recuperando da tragédia. O impacto econômico foi grande, principalmente porque o país vive de sua agricultura, mas a ajuda dos países vizinhos e a garra da população em reconstruir suas casas, vem fazendo com que o país possa se reestabelecer novamente. Encontramos lugares totalmente destruídos pelo ciclone, mas também ouvimos muitas histórias de como a população se uniu para restabelecer suas casas e continuarem suas vidas. 

Foi muito bom se perder neste pequeno país no oceano Pacífico, porque aqui encontramos um povo autêntico, rico em sua história, cultura e crenças. E, isso porque a gente só conheceu um pedacinho de suas ilhas! Imagina o resto!

Referências:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vanuatu
http://musicbridgesconnect.org/pt/concentre-se-em-vanuatu/
http://www.cargocult.net.au/index.php/behind-the-scenes/missionaries-and-canniblism
http://curiosidadeseculturas.blogspot.co.nz/2010/10/arquipelago-de-vanuatu-pacifico-sul.html

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