Por trás dos Sorrisos de Mumbai: Visita à ONG Mumbai Smiles
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Por trás dos Sorrisos de Mumbai: Visita à ONG Mumbai Smiles

Numa cidade com cerca de 20 milhões de pessoas, 60% vivem nas favelas. Na esperança de uma vida melhor, as pessoas começaram a mudar para as grandes cidades, e Mumbai, além de ser a capital financeira do país, é para muita gente “a cidade dos sonhos”, fruto da influência de Bollywood.

No começo achei um pouco de exagero, mas depois de alguns dias na cidade fui percebendo o tamanho dessa influência.

A maior indústria do cinema no mundo, Bollywood, produz mais de 550 filmes por ano. Mais de 1 por dia! É a forma de lazer e entretenimento mais acessível da Índia. Os filmes são produzidos em diferentes dialetos locais e o governo tem programas que oferecem TVs gratuitas para regiões muito carentes. A falta de educação de qualidade faz com que a TV seja a única forma de muitas pessoas enxergarem o mundo ao seu redor. Por isso, encantados com o que eles veem na TV, muitos migram para as grandes cidades, iludidos por uma vida melhor. Quando lá chegam, enfrentam os problemas que conhecemos bem, tais como falta de água e energia, desemprego e falta de dinheiro para comprar uma casa, levando eles as favelas.

Buscando encontrar pessoas que fazem a diferença num país tão rico culturalmente, mas ao meu tempo tão carente, encontramos a ONG Mumbai Smiles, que nos recebeu de portas abertas para contar um pouco sobre seus projetos. A ONG foi criada em 2005 por Jaime Sanllorente, um espanhol que veio para a Índia e ao ver a situação de um orfanato quase fechando por falta de recursos, resolveu ajudar. Seu trabalho foi ganhando força e crescendo principalmente com a ajuda de doadores individuais, e hoje também conta com o apoio de algumas empresas.

Visitamos 3 projetos focados em públicos diferentes. Uma coisa que me chamou a atenção é que todos eles valorizam o papel da mulher na sociedade. O projeto Balwadi oferece 25 creches em 5 favelas de Mumbai. O foco são crianças de 1 a 6 anos. Seu principal objetivo é cultivar hábitos saudáveis e nutritivos através da educação, já que um dos principais problemas desta faixa etária na Índia é a desnutrição infantil. Foi bacana ver as professoras também ensinando inglês para as crianças e contando que muitas delas acabam ensinando seus pais.

Todas as professoras são mulheres e membros da comunidade, o que faz com que o trabalho realizado ultrapasse os muros da creche, gere maior confiança na comunidade e se aproxime dos problemas do dia a dia. Tudo é mensurado com indicadores que abordam desde a presença nas aulas até o nível de aprendizagem baseado na compreensão dos materiais educativos, além do acompanhamento nutricional de cada criança. Há coordenadores de campo responsáveis pelo monitoramento de cada escola.

O projeto HOPE aborda aspectos financeiros, psicológicos, emocionais e nutricionais para crianças com câncer de 0 a 18 anos, por meio de uma parceira com um hospital da região. O objetivo é dar suporte em todas estas áreas para ajudar não somente as crianças e jovens, mas também suas famílias a lidarem com a doença.

Muitas famílias, por falta de conhecimento e informação, perdem as esperanças quando se deparam com um familiar com câncer, e o trabalho que a Mumbai Smiles vem fazendo, além de transformar a vida dessas famílias, está cheio de histórias de sucesso para contar. Ficamos felizes de ver as fotos de algumas crianças que já venceram a doença e hoje tem uma nova vida. A carinha delas, comparando o antes e depois da doença, é de encher os olhos de lágrimas.

O terceiro projeto que vistamos chama-se SEED e visa a promoção de ações de empoderamento das mulheres através de cursos e treinamentos para desenvolvimento de competências. Essa é uma das causas de extrema importância nos dias de hoje, principalmente na Índia.

Aqui é muito forte a cultura de que a mulher deve ficar em casa cuidando dos filhos, e muitas têm até medo de sair nas ruas por total desconhecimento e despreparo do que vão encontrar lá fora. As famílias mais pobres não têm dinheiro para arcar com a educação de todos os filhos e acabam preterindo as mulheres por entenderem que elas não precisam ir para escola. Essas mulheres crescem com medo porque o mundo lá fora é desconhecido para elas. Mas depois que casam e quando a situação financeira aperta, tudo piora, porque elas não estão preparadas para entrar no mercado de trabalho e as vezes o marido nem deixa elas trabalharem. Vira uma bola de neve e a situação só vai se agravando. E não é só um problema de falta de capacidade técnica, é muito mais complexo pois envolve questões psicológicas e quebras de paradigmas.

Nós visitamos uma pequena cooperativa criada para venda de artesanatos locais. As mulheres que conhecemos estavam agitadas e felizes porque tinham um grande trabalho pela frente. Elas serão responsáveis para execução de mais de 5.000 flores artesanais para uma festa cultural na Espanha e tudo tem que estar pronto até o final de março. O ONG também oferece cursos de informática, vendas, secretariado, preparação para atendimento em call center, entre outros.

No nosso papo com a Natasha, responsável pela área de Awarness na ONG, ela nos contou sobre o projeto mMitra, um ótimo exemplo de como uma simples ideia e o acesso à informação de qualidade, pode salvar vidas.

A Índia tem o maior número de mortes durante a gravidez no mundo. Cerca de 17% das mulheres grávidas morem por complicações durante a gestação (dado de 2013 fornecido pela ONG.) O projeto mMitra, recém lançado pela Mumbai Smiles em conjunto com a ONG Armman, utiliza mensagem de voz gratuitas para fornecer informações para mulheres grávidas, já que a maioria delas tem um celular ou um telefone de fácil acesso. Após um cadastro, as mulheres grávidas recebem informações sobre cada período da gestação com orientações sobre os cuidados que devem ser tomados. Além disso, há uma central de atendimento para dúvidas e reuniões periódicas nas comunidades atendidas. São mensagens de voz, porque muitas não sabem ler. Atualmente, o projeto tem mais de 2.800 mulheres cadastradas.

Em todos os projetos da ONG é evidente a preocupação com o papel da mulher na sociedade, atrelada a necessidade de educação e acesso a informação para todos. São exemplos como estes que alimentam nossa esperança de que a gente ainda pode fazer algo por um mundo melhor.

Para conhecer mais sobre os projetos da ONG Mumbai Smiles, acesse:
http://www.mumbaismiles.org/

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