Conhecendo a realidade do Quênia e da Uganda
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Conhecendo a realidade do Quênia e da Uganda

Chegamos em Nairobi (Quênia) e fomos recebidos com um trânsito infernal, caraterístico da cidade. Foram 2h30 para chegar no hotel, para um percurso que deveria levar 25 minutos. Mas para quem mora em São Paulo, já estamos habituados e não sofremos tanto.

Nosso hotel ficava em uma região central da cidade bastante movimentada e considerada segura. Mas, mesmo assim, a segurança para entrar no hotel era bastante rígida, com detectores de metal e 2 seguranças armados. Um deles vasculhava todos os carros que chegavam, usando até espelho para ver embaixo do carro.

Resolvemos nem sair do hotel e no dia seguinte partimos para estrada, a caminho de Uganda. A pobreza é visível em toda cidade, mas na estrada é ainda mais severo. Mais da metade da população não tem emprego. O salário mínimo é a cerca de U$80 por mês. As pessoas não largam seu emprego por nada, porque se saírem podem nunca mais entrar no mercado de trabalho.

As estradas são muito movimentadas e o comércio local é intenso. Vimos mulheres e crianças vendendo principalmente batatas, cenouras e outros legumes em todo o percurso. Alguns jovens vendiam coelhos que acabaram de caçar.

Estávamos em um grupo de 10 pessoas e paramos para comprar alguns alimentos destes produtores locais. A ansiedade e ao mesmo tempo a felicidade das mulheres que os vendiam era de chamar a atenção. Todas falando ao mesmo tempo e indicando as melhores batatas que elas tinham. Enquanto nosso guia comprava os alimentos, elas faziam poses para sair em nossas fotos.

Os africanos em geral são muito simpáticos mas também muito carentes de atenção. Era comum ver pessoas acenando para nosso ônibus, como um sinal de boas-vindas. E ficavam ainda mais felizes quando a gente retribuía o cumprimento.  Surpreendeu-me a quantidade de crianças simplesmente sentadas a beira da estrada, olhando o movimento.

Quando chegamos na fronteira entre o Quênia e a Uganda, a fila de caminhões era imensa. Os caminhões chegam a demorar até 2 semanas para cruzar a fronteira! Porque o sistema é lento, totalmente manual, e eles fazem a inspeção em todas as mercadorias. Para nossa sorte, como estávamos em um ônibus de turistas, demorou apenas 2 horas com o tramite normal de passaportes e vistos de entrada no país. Segundo nosso guia, eles confiam nos turistas, então não foi necessário conferir todas as nossas malas e materiais que estavam no ônibus. Para brasileiros, o visto para Uganda pode ser tirado na hora e custa 50 dólares. Deve ser pago em dólares e eles só aceitam notas novas, a partir de 2006.  Tem uma placa alertando, mas não souberam nos explicar o porquê.

Em Uganda é difícil diferenciar os centros das cidades das estradas. As cidades aqui são muito diferentes dos padrões que estamos acostumados. A maioria das ruas são de terra. Tudo é muito espalhado. É um país que vive basicamente da agricultura. Vimos comércio em todo o caminho, com muitas pessoas vendendo alimentos à beira da estrada. 

Passamos por 4 cidades: Kampala, Jinja, Kabale e Bushenyi, e todas elas são muito parecidas. As condições são precárias, com pessoas andando descalças nas ruas de terra, lixos espalhados no chão, falta de saneamento básico, entre outros problemas. Grande parte dos banheiros que passamos não havia água; alguns nem tinham descarga, apenas um buraco no chão abaixo do vaso sanitário. Em uma grande loja de artesanatos locais, bem bonita e organizada, me chamou a atenção uma placa no banheiro em inglês e na língua local, dizendo “Lamentamos informar que não há água disponível frequentemente, porque é cara e temos que ir longe para buscá-la”.

Quando paramos para abastecer no caminho de Kampala, uma cena me chamou a atenção. Uma família: mãe, pai e 2 crianças, estavam caçando formigas e colocando em jarras para come-las. Fez-me pensar em quantas vezes nós desperdiçamos comida, deixamos um restinho no prato, na panela, ou esquecemos na geladeira. Enquanto isso, há famílias se alimentando com formigas! Tem coisas muito erradas neste mundo. Peguei um saco de pão e creme de amendoim que tínhamos no ônibus e entreguei para a mãe; o sorriso dela fez eu ganhar meu dia.

Outro problema comum no país são as quedas de energia muito frequentes. Ficamos hospedados em campings e ao longo do dia era comum a falta de energia por algumas horas. Chove muito em Uganda e isso também contribui para causar falhas no abastecimento de energia, principalmente durante tempestades.

Mas mesmo em meio a tanta carência, as pessoas são simpáticas e se ajudam entre si. Quando paramos por uma noite em Kalinzu Forest, uma reserva repleta de chimpanzés e próxima a uma grande plantação de chá na região, as crianças da escola local vieram fazer uma apresentação de dança para nosso grupo. Não havia energia no local, estava chovendo e já era tarde. Mas para não decepcionar as crianças, os moradores da reserva conseguiram uma bateria para acender pequenas lâmpadas dentro de uma sala no Centro de Preservação.  

As crianças estavam super ansiosas se arrumando com seus trajes especiais enquanto estávamos jantando. Para eles, é um grande orgulho mostrar sua cultura e ficam muito felizes com a presença de estrangeiros na região. Adoram tirar fotos, e no final da dança, nos surpreenderam com uma pequena peça teatral. Um texto simples, mas falado em inglês sobre a importância da preservação da floresta e principalmente dos chimpanzés que nela habitam. Fiquei emocionada ao ver os sorrisos estampados nos rostos de cada criança mesmo com a sala um pouco escura; a energia que eles passavam era contagiante. No final, todos nós dançamos com eles.

Apesar de ver cenas muito tristes pelo caminho, o que mais me chamou a atenção foi o senso de comunidade entre as pessoas. Como as condições são precárias para todos, eles se ajudam a superar os desafios do dia a dia, principalmente nas áreas mais afastadas dos centros urbanos. Provavelmente esse comportamento tenha sua origem na cultura tribal, muito presente em toda a África. As pessoas respeitam muito suas tribos e a origem de sua família. Eles são bem menos egoístas do que as pessoas que vivem nas grandes metrópoles pelo mundo afora, que não se preocupam com seu lixo porque tem um caminhão para recolhe-lo, que  utilizam água em abundância como se fosse um recurso ilimitado, que desperdiçam comida porque não estão com fome, que destroem árvores para ter uma vista melhor de sua casa. É, temos muito a aprender com os africanos.

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