Na selva com os Gorilas africanos
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In África

Na selva com os Gorilas africanos

Os gorilas das florestas da África central são uma das espécies mais ameaçadas do Planeta. Atualmente cerca de 600  vivem nas florestas dos vulcões de Virunga, na fronteira de Uganda, Congo e Ruanda, e na floresta de Bwindi, no Sul de Uganda.

É possível encontrar dois tipos de gorilas na África. Os gorilas-das-planícies são os que vivem no Parque Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo, e os gorilas-das-montanhas, que ficam Floresta de Bwindi e no Parque Virunga.

Infelizmente, eles estão ameaçados por culpa da ação humana. Segundo artigo da revista Veja em 2012, os caçadores os perseguem implacavelmente, seja para transformá-los em alimento para a população carente que vive nas proximidades, seja para se apossar dos filhotes, cujo preço no mercado negro alcança 40 000 dólares. Além disso, as madeireiras, mineradoras e carvoarias, assim como as estradas necessárias para escoar sua produção, avançam pelo habitat dos gorilas, reduzindo-o. O mesmo ocorre com a ocupação humana.

A boa notícia é que nos últimos anos a população de gorilas aumentou, em consequência do desenvolvimento e aumento do turismo nas áreas protegidas. A aventura na trilha para encontrar os gorilas é cara, custa 500 dólares por pessoa. O dinheiro é usado para preservação da floresta, da espécie e também para projetos sociais com a comunidade local. Tudo é muito bem organizado, mas a trilha é bastante imprevisível.

Viajamos até o sul da Uganda, na Floresta de Bwindi, conhecida como Bwindi Impenetrable National Park,  para fazer a trilha dos gorilas. É preciso ter uma permissão especial do governo para acessar o parque e fazer a trilha. Chegando lá, fomos alertados sobre alguns pontos relevantes. A trilha pode levar de 1 à 9 horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rápido e estão espalhados pela floresta. Não é permitida a entrada de pessoas com algum tipo de doença porque pode contaminar os gorilas. É preciso estar preparado fisicamente, pois são gorilas-da-montanha, isso significa que a trilha é repleta de subidas e descidas íngremes. 

Como não se sabe quanto tempo pode levar a aventura, é aconselhável levar no mínimo 3 litros de água por pessoa e também um lanche e alimentos leves. Além de capa de chuva, repelente e, claro, a máquina fotográfica. Só que para carregar tudo isso em uma trilha que pode ser bastante longa, não seria nada fácil se não fosse uma ideia muito bacana para ajudar a comunidade local. Você pode contratar um carregador para levar sua mochila, por cerca de 15 ou 20 dólares. São moradores da região, que estão habituados a andar na selva e fazem disto sua fonte de renda. Dessa forma, a população da região se vê estimulada a preservar os gorilas, em vez de caçá-los para servirem de refeição. Tudo é organizado pelas autoridades locais.

Ainda, há casos de pessoas que não aguentam a trilha depois de muitas horas de percurso e contratam pessoas para literalmente carregá-las no colo. Já esse “serviço” pode custar cerca de 500 dólares.

A trilha começa às 7h da manhã, quando as pessoas são divididas em grupos de 8 a 10 pessoas. Cada grupo tem um ponto de início e faz um percurso diferente pela selva adentro. Todos os grupos têm o seu guia e mais 2 guardas florestais ou “rangers” (como eles chamam) para garantir a segurança do grupo pela floresta.

Além disso, há rastreadores (ou “trackers”) que vão na frente de cada grupo e que se comunicam por rádio para passarem as coordenadas de qual caminho percorrer na busca aos gorilas.

Nossa guia, Sarah, era uma mulher forte, mas de voz serena; falava baixo, mas passava muita segurança em seu conhecimento sobre os gorilas. Acompanhando ela, mais 2 rangers e os carregadores que nós e outras pessoas do grupo contrataram.

Depois de todo esse briefing com orientações, eu diria um pouco assustadoras, iniciamos nossa jornada pela selva. Logo de cara, uma super subida na montanha. Nessa hora fiquei muito feliz por ter contratado um carregador e por ter um stick (uma espécie de bastão específico para caminhadas e trilhas). Tenho que reconhecer que o Francis, nosso carregador, ajudou bastante com uma forcinha na escalada da montanha.

Quando estávamos na metade da montanha, recebemos a melhor notícia de todas: os gorilas estariam ali no topo da montanha. E não fazia nem 1 hora que estávamos na floresta! Só de ouvir isso meu corpo já estava abastecido de energia suficiente para chegar ao topo.

Quando há indícios que os gorilas estão próximos, é preciso deixar as mochilas, água e demais apetrechos com os carregadores e seguir o caminho carregando apenas a máquina fotográfica. Isso é para não chamar a atenção dos gorilas com comidas e coisas do tipo, pode não ser seguro.

Estava tão preocupada com o tempo que levaria para encontrá-los que nem acreditei que já estaríamos próximos dos animais. Andamos mais alguns metros e lá estava uma família inteira de gorilas em cima das árvores.

Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos mostrem os gorilas como monstros ferozes, eles na verdade aceitam pacificamente a presença de humanos entre eles. Claro que há os que estejam mais habituados com a presença de humanos, e aqueles mais selvagens que normalmente ficam mais afastados pela floresta adentro.

O macho estava comendo frutinhas no topo da árvore, a fêmea descansando em um dos galhos, e um gorila bebê passeando de galho em galho. Outros membros da família também estavam em volta. Ficamos mais de 1 hora observando o comportamento deles, até sermos surpreendidos com uma fêmea grávida passando a menos de 5 metros de distância de nosso grupo. Ela parou e ficou sentada entre os arbustos descansando.  Um dos rangers começou a fazer barulhos para se comunicar com o gorila bebê que estava na árvore e a reciprocidade foi incrível. O pequeno gorila batia no seu peito e murmurava com o som característico da espécie. 

Nisso, o gorila macho grande e imponente (o “silver back”) desceu da árvore, como se quisesse nos cumprimentar e dizer “quem manda aqui sou eu!”.  Foi demais admirar esses animais, assim tão de perto.

Depois de 1h30 ali observando, seguimos na trilha de volta ao acampamento central. Tivemos muita sorte em tê-los encontrado tão rapidamente e fomos o primeiro grupo a retornar ao ponto de partida. Aproveitamos para comer nosso lanche e descansar.

Os outros grupos ainda estavam na selva; cada um teve uma experiência diferente, mas no final do dia todos conseguiram encontrar os gorilas e chegaram bem ao acampamento central.

Referências
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tema-livre/a-dura-luta-para-preservar-os-magnificos-gorilas-na-africa/

 

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