O pescador de Tulagi nas Ilhas Salomão
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O pescador de Tulagi nas Ilhas Salomão

Nick Holmes tem apenas 23 anos, solteiro, nasceu em Honiara, mas quando criança foi para a pequena ilha de Tulagi, onde mora desde então. Como todo pescador, Nick é o homem das histórias.

Você deve estar imaginando qual a origem do nome dele? Quando ele se apresentou, a explicação veio rapidamente: seu nome e sobrenome veio em homenagem a um amigo australiano de seu pai, Mr. Holmes.

Nick contou que tem amigos na Austrália, mas nunca visitou o país. Está planejando vender um terreno do seu pai na ilha de Malaita, para juntar dinheiro e viajar para lá. Quem sabe conhecer uma australiana e ficar de vez pela Austrália, ele dizia rindo.

Conhecemos Nick quando saímos para andar pela ilha de Tulagi, uma caminhada de 8 quilômetros dando a volta completa na ilha.  Estávamos na metade do caminho quando Nick apareceu carregando sua rede de pesca. Veio andando ao nosso lado até começar a puxar assunto.

Ele usa somente sua rede para pescar, é um ótimo nadador e rápido o suficiente para não deixar os peixes escaparem. Contou que estava à procura do seu jantar quando o papo começou.

Tulagi foi um campo de batalha durante a Segunda Guerra Mundial e Nick sabe cada cantinho onde se escondem os segredos daquela época. Cavernas utilizadas pelos japoneses, acampamentos dos americanos, local onde centenas de japoneses foram enterrados junto com objetos da guerra e até onde estão os destroços de aviões e navios afundados no oceano ao redor da ilha.

Virou nosso guia e foi contando as histórias a respeito. Mostrando destroços de equipamentos da guerra que estão abandonados na praia, contava sobre as marcas que os japoneses deixavam em seus esconderijos. Levou a gente para conhecer os pequenos abrigos construídos por americanos para descansar e se esconder dos inimigos. Disse que quando era pequeno, ele visitou esses lugares com ex-soldados americanos que vieram para a ilha rever o que um dia foi o campo de batalha.

Contou, ainda, de uma casa de palha na beira do mar que até hoje abriga fantasmas de soldados japoneses mortos durante a guerra; nenhum morador da vila tem coragem de ir lá a noite, mas ele já foi, só não conseguiu ver os fantasmas.

Durante a noite, nesta parte da ilha, não são só fantasmas que podem aparecer, mas também crocodilos de água salgada que vivem na ilha da frente que vem para a praia em Tulagi quando estão famintos. Falando sobre os crocodilos, Nick contou que no ano passado seu tio conseguiu pegar um crocodilo de mais de 3 metros de comprimento.

A carne do animal serviu de alimento para sua família por mais de uma semana, isso porque seu tio também distribuiu pequenos pedaços para os moradores da vila, que vieram curiosos para ver o bicho quando souberam que ele havia sido capturado. Hoje, Nick conta com orgulho que a carne do crocodilo é a sua preferida, apesar de também gostar muito da carne de tubarão.

Perguntei se ele já tinha visto muitos tubarões por aqui e ele disse que somente quando ele trabalhou em um navio de Taiwan que veio para as Ilhas Salomão há alguns anos atrás. Ele era responsável pelo deck do navio e também por consertar todas as redes de pesca que eram furadas pelos grandes animais marinhos.

Ele dizia que ninguém sabia consertar as redes e o capitão do navio ficou seu amigo porque ele era o único que conseguia resolver o problema das redes. Quando estava neste navio, foi quando viu os maiores animais marinhos de sua vida: tubarões, baleias, tartarugas enormes, tudo que os chineses conseguiam pescar para vender em outros países.

Infelizmente, em Salomão, a pesca desses animais é permitida e as pessoas daqui comem até hoje carne de tubarão, tartaruga e baleia. Não vimos nenhum crocodilo sendo capturado, mas vimos uma tartaruga enorme no mercado da vila, que havia sido pega por um grupo de pescadores locais. Ela ainda estava viva quando a colocaram num pequeno barco para ser vendida em Honiara, a capital do país. Segundo eles, a tartaruga valia entre US$ 300 a 450.

Nick disse que come tartaruga com frequência, mas que a carne do crocodilo era muito mais saborosa. Estávamos caminhando quando, de repente, silêncio, ninguém se mexe! Nick havia visto algo na água e preparou sua rede para jogá-la no mar. Nesta hora, eu já achei que era um crocodilo. Mas não, alarme falso, o peixe que ele tinha visto já tinha fugido.

O papo continuou, falando agora sobre futebol. Assim como a maioria do povo de Salomão, Nick adora futebol, torce pelo Brasil e é fã do Neymar. É impressionante como todos aqui ficam encantados ao saber que somos brasileiros, simplesmente porque são apaixonados pelo nosso futebol. No centro de Honiara tem um outdoor enorme com a foto do Neymar, ídolo de muita gente por aqui.

Volta quase completa pela ilha, era hora do Nick entrar na água para garantir seu jantar e nós voltarmos para nosso hotel para almoçar. É impressionante como em uma simples caminhada despretensiosa a gente acabou conhecendo muito mais da ilha do que imaginávamos!

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