Cancun e sua guerra pelo turista
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Cancun e sua guerra pelo turista

O mar azul paradisíaco e a larga estrutura hoteleira fizeram de Cancun uma das cidades mais visitadas do Caribe. Não é à toa que a cidade foi planejada especialmente para atrair o turismo.

Quando a cidade foi erguida na década de 1970 estabeleceu-se uma divisão entre o Centro, com hotéis de preços mais acessíveis, e a chamada Zona Hoteleira, a região na estreita faixa entre a laguna Nichupté e o mar onde ficam os resorts luxuosos.

Tudo na cidade foi tão pensando para agradar turistas de todos os gostos que beira ao exagero e muitas vezes falta responsabilidade com o meio ambiente e com o entorno. Como qualquer outro lugar de alta circulação de turistas vale atentar para as consequências desse crescimento sem limites.

São tantas as opções de passeios e atividades que as vezes algumas delas viram barganha para comprar passeios mais caros. E a qualidade dos passeios fica comprometida com a necessidade de agradar as grandes massas. A concorrência dentre os hotéis é altíssima, todos oferecem opções similares de “all inclusive” e pacotes com atividades. A diferença fica no atendimento e na qualidade das instalações, algumas muito velhas e defasadas e outras mais modernas e mais caras.

A estratégia do “all inclusive” está em tudo, desde hotéis até em passeios e casas noturnas. Por essa facilidade ao acesso de bebidas alcoólicas a cidade se tornou o paraíso das baladas. O problema é que essa estratégia com tudo incluído também gera grande desperdício. São raros os hotéis que sabem lidar com esse problema, e também falta conscientização das pessoas em saberem escolher somente aquilo que vão consumir. É aquele tal pensamento “Estou pagando caro por isso mesmo...”, mas o custo desse desperdício é muito mais alto do que se imagina.

Sendo uma cidade focada em atrair turistas, Cancun também virou palco para diversas empresas praticarem suas estratégias agressivas de vendas. Mal saímos do aeroporto e dentro do balcão do Ministério do Turismo já havia um simpático rapaz nos oferecendo um café da manhã gratuito no Hard Rock Hotel. A troco de que? Nada, bastava ir lá conhecer o hotel.  Essa abordagem é muito comum em lugares turísticos, principalmente com recém-casados ou casais comemorando alguma ocasião especial.

O que eles querem na verdade é te atrair para um ambiente onde seus especialistas em táticas coercitivas de vendas vão te oferecer produtos de alto investimento ligados a time share e modalidades parecidas. E garanto, por mais que tenha pensando “É só dizer não no final”, é muito ruim passar pela pressão psicológica que eles fazem.

Nossa passagem por Cancun não fazia parte dos planos originais. Resolvemos ir para lá porque era o local mais barato para encontrar opções de voos para Cuba. Mas, já que estávamos por lá, resolvemos aproveitar. Escolhemos os principais lugares que queríamos ir e fomos atrás de opções que apresentassem o melhor custo benefício.

Nossa primeira escolha foi conhecer a Isla Muljeres que fica bem próxima a Cancun. Optamos por um passeio com uma empresa especializada e nos arrependemos. Vale mais a pena pegar a balsa e ir por conta própria. A ilha é charmosa e linda. O atendimento dessas empresas de passeios é sempre muito bom pois eles dependem das gorjetas no final do dia, mas a exploração em cima dos turistas é enorme. A primeira parada na ilha foi para o almoço e ao descer do catamarã me deparei com uma das cenas mais tristes que já vi.

O rapaz dizia com um sorriso estampado no rosto “Aqui você tem a oportunidade de ver tubarões frente a frente e até tirar foto com eles”. Na beira do mar, próximo a praia havia um cercado de madeira com 4 tubarões. As pessoas poderiam mergulhar ali e até beijar o tubarão se elas quisessem. O lugar era super pequeno e raso, e o suposto instrutor orientava as pessoas a pegarem o tubarão no colo para fora da água como se fosse um bichinho de pelúcia para tirar fotos diferentes. Muito triste!

Essa região também é conhecida por ter atividades que propiciam nadar com os golfinhos. Não vou entrar no mérito de como essas empresas operam, mas eu não concordo com qualquer atividade que mantenha um animal em cativeiro para agradar turistas. Eu garanto que a emoção de ver os golfinhos em seu ambiente natural saltando e dando piruetas é infinitamente maior do que vê-los fazendo isso comandados por um instrutor.

Saindo na Cidade de Cancun, mas ainda na península de Yucatán fomos conhecer mais uma das 7 maravilhas do mundo: Chichén Itzá. Um sítio arqueológico que funcionou como centro político e econômico da civilização maia. A pirâmide de Kukulkán é o carro chefe do lugar, é lá que durante o equinócio a luz do sol reflete o corpo de uma serpente que vai caminhando pela pirâmide a medida que o sol vai se pondo e consequentemente a luz vai mudando. Além da pirâmide, há o Campo de Jogos, o Templo de Chac Mool, a Praça das Mil Colunas e muitas ruínas. O lugar é bem legal. O difícil mesmo é o calor numa região seca e muito quente. Quase derretemos, mas as nuvens ajudaram um pouco a esconder o sol por alguns minutos.

Chichén Itzá é o sítio arqueológico mais visitado do México, recebendo mais de 1,5 milhão de pessoas por ano. Um lugar com tantos turistas acabou despertando interesse dos comerciantes. A tática por lá é vender coisas falsificadas ou quebradas por preços assustadoramente baratos. É comum escutar que tal produto custa 1 dólar mas na verdade esta é só uma forma de atrair clientes e iniciar uma conversa para comprarem o que realmente interessa para os vendedores.

Em nosso último dia em Cancun fomos à Playa del Carmen, que por sinal é maravilhosa, conhecer o parque de diversões mais famoso por aqui, o Xcaret. O parque é quase que um zoológico com animais marinhos e terrestres, o que eu não gosto muito.  Mas, para minha surpresa, vi que o parque ganhou prêmio pela Organização Mundial de Turismo pelas suas práticas de sustentabilidade, então me interessei em conhecer melhor suas atividades. E eles têm até um Relatório de Responsabilidade Socioambiental. Ou seja, é possível encontrar um meio termo para agir com responsabilidade sem prejudicar o meio ambiente e nem interferir negativamente na biodiversidade do Planeta. Na entrada do parque eles pedem para checar seu protetor solar, porque se não for biogradável, não é permitido. Isto porque uma das principais atrações é nadar em um rio subterrâneo e este cuidado é para evitar a cotaminação do rio.

Como visitante, não posso dar detalhes do tratamento dos animais no dia-a-dia mas parece haver uma precoupação grande quanto a isso. Conversando com um dos funcionários ele contou um pouco do trabalho de recuperação das tartarugas, que após se tornarem adultas regressam para o mar. E também falou um pouco do trabalho de reabilitação dos animais que regressam ao seu ambiente natural. Em suas instalações encontra-se o primeiro borboletário do México e o Aquário de Recife de Coral, um dos poucos lugares no mundo onde se pode observar estruturas de recifes em seu habitat natural.

Além disso, o parque entrou pela segunda vez no Guinness em 2012 quando registrou o nascimento de 132 araras vermelhas. As aves foram devolvidas à natureza em 2013, com a introdução de 20 exemplares na selva de Palenque.

São bons exemplos como este que trazem equilibrio e mostram como lugares altamente turísticos podem usar recursos para melhorar a relação com a natureza e não prejudicá-la a troco de beneficios de curto prazo.

Tudo em exagero não dá certo.


Referências                                                                                            
http://viajeaqui.abril.com.br/cidades/mexico-cancun
http://www.xcaret.com/
http://www.xcaretexperiencias.com.br/responsabilidade-social-experiencias-xcaret.php
http://www.envolverde.com.br/rse/salvando-araras/

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